segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ordinário café

Manhã fria e silenciosa, de céu gris. Um homem caminha pela cidade vazia, acompanhado pelas melodias compostas pelo vento. Subitamente encontra-se sentado, confortavelmente, em um daqueles cafés alternativos espalhados pelos boulevards de Paris, espaço propício para encontrar pessoas, filosofar, compartilhar idéias, divagações e reflexões.

O frio cruel determinou sua natural busca por abrigo, assim como o foi desde as origens; Em contraponto, a frieza, também cruel, do homem contemporâneo, determinou sua preferência pela mesa mais afastada e isolada do recinto. Solitário, desfruta sua bela xícara de café quente, forte e sem açúcar; À parte a solidão, sente a cada gole vivacidade e prazer.

Naquela manhã, não utilizou a moeda que sobrava nos bolsos para comprar o jornal tampouco teve o prazer de receber um Bonjour, monsieur! do senhorzinho que trabalha há anos na banca de jornais. Acomodado, tira seu noticiário digital dos bolsos, onde novidades chegam a todo instante via internet. Sobre a solidão, se confortava com a idéia de estar conectado a rede mundial afinal, tendo 680 amigos registrados em seu perfil algum deles havia de estar disponível naquela manhã para o petit déjeuner. Não encontrando companhia online que lhe apetecesse, colocou os fones de ouvido. Uma canção de Iggy Pop lembra-o de um trecho do filme “Coffee and Cigarette” (2003), que diz: “Cigarettes and coffee, man, that's a combination”. Para confortar-se, “acende” seu cigarro eletrônico companheiro, que felizmente está com a bateria 100% depois de ligado no carregador USB por toda a madrugada.

Termina seu café contente e satisfeito. Deixa o local como se por ali nunca tivesse passado.

Mais um reles mortal.


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