segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

DETAIL AND IDENTITY

INTRODUÇÃO
O capítulo “Detail and Identity”, do Livro “The state of architecture in the beginning of 21st century”, discute a temática à partir de exemplos e visões de diferentes setores como: política, sociedade, design, arquitetura e produção. Por se tratar de um texto contemporâneo, os autores analisam várias questões, inclusive a produção do modernismo, com um distanciamento histórico que lhes permite apontar algumas de suas falhas e levantar questões sobre as posições atuais.
O presente trabalho vai apresentar os diferentes posicionamentos defendidos pelos autores nos textos, refletindo sobre eles e ao mesmo tempo tentando conectá-los interna e externamente com outros exemplos, possibilitando uma reflexão sobre práticas arquitetônicas atuais e anteriores.


“DETAIL AND IDENTITY”
O capítulo é formado por sete textos de teóricos contemporâneos, introduzidos por uma breve explanação acerca dos conceitos de detalhe e identidade. A obra apresenta e discute o tema a partir de diferentes áreas e visões: política, sociedade, design, arquitetura e produção. Neste momento introdutório são levantados tópicos como a importância do detalhe para a criação da identidade da obra e do próprio arquiteto. Além disso, o detalhe é tratado como um excesso, algo que vai além da função e forma, garantindo à obra significados mais amplos. Desta forma, a utilização do detalhe reflete a preocupação com a criação ou manutenção de uma identidade.
O primeiro texto, Evidence of Identity, de Laurie Hawkinson, apresenta a semântica dos termos em análise. Nele as definições de detalhe e identidade são trabalhadas e comparadas segundo sua interdependência. Segundo a autora, detalhe é aquilo que se distingue do geral, destacando-se como característica e particularidade. Sua ligação com a identidade se dá exatamente neste momento, onde é o detalhe que confere identidade ao objeto.
Tendo identidade como algo particular que determina um objeto ou grupo de objetos, pode-se perceber uma dialética pertinente ao tema que, por um lado é aquilo que distingue e torna único e por outro é capaz de integrar e fazer pertencer a um grupo. Assim, a relação estabelecida por detalhe e identidade se da pelo ato de montar e desmontar simultaneamente, é a relação entre o fragmento e a totalidade da construção.
O segundo momento discute a questão do trabalho/produção em escalas menores e sobre o prazer dessa possibilidade de trabalho mais íntima, gerando objetos “entre a utilidade e a beleza”. Desta forma, o trabalhador se reconhece no objeto, gerando uma relação de prazer e realização durante a produção, além da identificação mútua entre homem o objeto.
Como uma crítica à produção em massa e padronizada, o autor propõe e apresenta exemplos de trabalhos próprios produzidos “em resposta ao corpo humano”, à um corpo específico não ao corpo padrão do homem-modelo.
Já o texto “Market Identity: Desappeared by Detail”, de Michael Bell trata do questionamento sobre a real efetividade da produção arquitetônica nas mudanças políticas e sociais. A crítica à produção moderna apresentada neste está totalmente atrelada à relação falha estabelecida entre a grande carga teórica apresentada pelos modernistas e a pequena efetividade construtiva durante as tentativas de aplicação dos conceitos propostos. Atrelada à crítica exposta pelo texto anterior, Michael aponta de forma negativa questões como a produção em massa e sua valorização que ganhou força após a Revolução Industrial.
No decorrer do texto o autor estabelece relações entre a existência de uma sociedade de consumo, com base na exploração e na mais valia e os valores de mercado. Desta forma é levantada uma questão dialética entre a realidade social, a produção do espaço e as leis do mercado. É impossível saber se o valor se justifica pela forma de ocupação e esta configura o espaço; se é este valor econômico que determina as demais características ou, ainda, se é a sociedade que determina a ocupação do espaço ou vice versa.
No âmbito arquitetônico questiona-se como e se é possível compensar as distâncias sociais, financeiras, físicas e educacionais em prol da criação de uma identidade capaz de aproximar ao invés de segregar.
O quarto texto apresentado no capítulo, denominado “The Style of Architecture”, de Andrew Benjamin levanta questões ligadas à classificação da produção em estilos, indagando acerca da real existência destes estilos e da forma como as obras se inserem neles. A discussão é iniciada através da citação de Heinrich Hubsch, quando este aponta a seguinte dúvida: “Em qual estilo deve-se construir?”. A partir de indagações entre produções anteriores e a desenvolvida no Modernismo, o autor chega à conclusão de que o estilo só existe a partir do momento que surgem outros modelos seguindo novos princípios. Desta forma, percebe-se que a existência e a afirmação de um estilo parte da negação de outro. Assim, pode-se concluir a impossibilidade de definir um estilo, principalmente quando se pensa nessa interdependência, mesmo que seja formada pela negação.
O debate é deslocado ao apontar duas questões a serem priorizadas. Primeiramente é abordada a interlocução do estilo com a identidade nacional. Este ponto pode ser analisado a partir da existência de correntes artísticas e arquitetônicas similares em todo o mundo, mas que apresentam individualidades que revelam as peculiaridades e os sentimentos nacionalistas de cada lugar. Entretanto, tal relação não é a resposta para toda discussão sobre estilo. Seguindo esta discussão, o autor aborda a existência do Estilo Internacional e seu reconhecimento como sinônimo do Moderno. Ao contrário do anterior, este aponta uma unificação na produção arquitetônica mundial, que cria modelos únicos de produção sem se ponderar as peculiaridades de cada região.
A questão da importância do detalhe como “agente transformador” e criador de identidade é retomado criativamente no quinto texto, “How architecture stopped being the 97-pound weakling and became cool”, através do design. O autor, Svlvia Lavin, coloca a possibilidade de valorização, em diversos sentidos, de coisas e pessoas, à partir do desenvolvimento de uma identidade própria, diferenciada e individual através do design.
É interessante estabelecer elos entre os textos que não foram organizados aleatoriamente. O detalhe é justamente o “criador” da identidade e o responsável pela inserção ou exclusão da obra em determinado grupo ou estilo, questão criticada no texto anterior. Portanto, o detalhe é o responsável pela existência ou negação do estilo.
Partindo do princípio das técnicas de representação e dos processos construtivos, os últimos textos discutem modos de produção e criam uma tríade discursiva entre tecnologia, design e sistemas integrados. Chegando à questão da arquitetura de detalhes, o mesmo coloca esta como a larga produção do relacionamento entre design e indústria.

EXEMPLOS:
1- Movimento “Arts and Crafts”
Com o advento da Revolução Industrial a conformação política econômica e social das cidades se modificou muito. Além disso, as artes sofreram uma drástica mudança de valor. O que outrora era produzido manualmente por meio do artesanato passou a ser fabricado em série, em uma velocidade muito maior. Entretanto, a produção perdeu em termos de espiritualidade, não havia mais a presença da energia humana; A produção é impessoal e sem vida; Resumindo: é sem identidade. A meta da produção industrial seria de retirar todo o processo de execução das mãos do trabalhador e entregá-lo para as máquinas, eliminando de vez o “erro” humano. O espírito progressista e liberal do começo do século XIX é sucedido por gostos materialistas. O progresso deixa de se vincular aos direitos e às liberdades do homem. O que se vê é uma desumanização progressiva e a perda sistemática da qualidade funcional e de uso, principalmente em se tratando de produtos de uso cotidiano. Devido a todos estes fatores a produção artística cai muito de qualidade, o que provoca o surgimento de alguns críticos que buscam reerguer sua qualidade.
Das críticas sociais e morais ao industrialismo nasceram as propostas do design como agente de transformação, como uma medida reformista que daria a possibilidade de valorização dos objetos à partir do desenvolvimento de uma identidade própria, diferenciada e individual. É quando começa o Movimento Arts and Crafts, que surge na Inglaterra em 1830.
A análise, a partir de pensamentos do filósofo John Ruskin, do problema da relação entre a arte e a indústria, e o questionamento do sistema industrial como um todo, foram muito válidos para o processo de reforma. Seus ensinamentos foram tomados como base por William Morris (1834 - 1896). Morris era um intelectual rico que deixou a arquitetura por perceber que esta ciência em seu tempo não se fazia da ligação entre homens e construções, a real efetividade da produção arquitetônica já estava sendo colocada em xeque. Morris defende e começa a divulgar, em meados do séc. XIX, a importância da concepção artística do objeto design de forma inédita, valorizando e preservando os “modos” de produção e conhecimento artesanais, a serem retomados na confecção de objetos de uso cotidiano.
Reunindo teóricos e artistas, o movimento buscou revalorizar o trabalho manual e recuperar a dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente para uso cotidiano, promovendo a integração entre projeto e execução; a relação mais igualitária entre os trabalhadores envolvidos na produção e ainda, padrões elevados de criação, qualidade e acabamento; Ou seja, trabalhar os detalhes, desenvolvendo e criando uma identidade.
A Red House, criada por Morris e que tem como arquiteto Philip Webb teve em seu conceito todas as idéias do movimento das Arts and Crafts. Foi o próprio Morris quem desenhou e ornamentou a casa por meio de elementos simples, criteriosa escolha de materiais. Esta parte é toda feita artesanalmente.
O objetivo de Morris na construção desta residência era mostrar como era possível criar elementos uteis sem utilização da máquina. A casa era formada por elementos simples, diferentes dos costumeiros na época, mas muito funcionais. Era clara a crítica à indústria, ao capitalismo e à produção em série.

A casa vermelha (Red House) em Bexleyheath, Kent
2- Estilo Internacional

O nome Estilo Internacional, citado no texto “Style of Architecture” referencia à produção arquitetônica funcionalista praticada durante a primeira metade do século XX em todo o mundo.
Esta intitulação é comumente utilizada para designar toda a produção do Movimento Moderno, pautada por formas visuais simples, concretas e racionais. Entretanto esta produção se torna internacional a partir do momento em que estas formas se tornam padronizadas para toda a produção arquitetônica mundial, criando padrões e módulos a serem seguindo.
Como justificativa para esta colocação pode ser citada a raiz do movimento nos ideais de Le Corbusier, criador do modulor, homem modelos cujas medidas serviam de base para qualquer produção em qualquer lugar. Entretanto, estas medidas se baseavam na média alemã de pessoas do sexo masculino, ou seja, jamais poderiam ser aplicadas em uma produção voltada a utilização de uma mulher brasileira, por exemplo .

Modulor, Le Corbusier

É importante ressaltar que, a princípio, os modernistas negavam a idéia de estilo, buscando romper com o historicismo e criar uma arquitetura flexível, distante das limitações provocadas pelas determinações estilísticas. Os padrões criados funcionavam como diretrizes que traduziam as teorias e os ideais pensados. Entretanto, a formação de um estilo e, pior, do Estilo Internacional foi inevitável. O que outrora traduzia ideais, se transformou em regra a ser reproduzida mundialmente.
Esta transformação e padronização se caracterizaram, principalmente pela desvalorização das peculiaridades de cada região e principalmente, pelo desrespeito ao sentimento de nação. Segundo Andrew Benjamin, apesar de todas críticas pós modernas e contemporâneas, a arquitetura ainda não conseguiu se desvencilhar do Estilo Internacional e retornar a produção para suas raízes nacionais.

CONCLUSÃO

Os detalhes são fundamentais para a formação da identidade de obra e do próprio arquiteto. Estabelecem com esta a relação entre fragmento e todo. Por outro lado a identidade é responsável por distinguir diferentes e agrupar iguais, sendo ela, então, a determinadora para a criação dos estilos arquitetônicos de cada período ou região, se é que pode-se acreditar na existência real destes estilos que se diferenciavam nas criações nacionais e que são interdependentes em características e nas mútuas negações e afirmações.
O fato é que, mesmo que eles não existam, há na produção arquitetônica uma ligação muito forte aos módulos e padrões a ela indicados. Este fato explica, por exemplo, a não ruptura, em pleno século XXI, com uma produção típica do início do século anterior. Este padrão só pode ser rompido por meio de uma produção arquitetônica de limites, ou seja, que se permita ir ao extremo para romper.
As determinações políticas, econômicas e sociais sofridas pela produção arquitetônica, também são elementos fundamentais para uma criação rígida, manipulada e manipuladora. É impossível, entretanto estabelecer até que ponto a arquitetura é interferida por este tipo de relações e até que ponto ela é capaz de interferir na realidade. Sua real efetividade, por meio da concretização de ideais, em ramos como política e sociedade ainda é muito questionada, principalmente após os adventos do Modernismo.
É fato, entretanto, que a percepção dos “detalhes” arquitetônicos de uma cidade é fundamental para a imagem que será construída sobre ela. Entretanto, da mesma forma que os “óculos em um homem magro” apontam sua transformação em um homem “cool”, mas não são a garantia dela, os detalhes e design de uma cidade trabalham com a imagem, provocando uma possível modificação da forma como ela é vista, o que não implica necessariamente na real solução dos problemas que estes detalhes escondem.
O grande problema é que a lógica da produção arquitetônica atual parte do mesmo princípio da produção industrial, atrelada ao consumo e à massificação, onde os objetos são todos iguais, a mão de obra é explorada e o tempo ganha mais valor do que a qualidade. Desta forma, questões mais profundas, como a realidade social, idéias políticos ou até mesmo a forma de utilização dos espaços criados são deixadas de lado em prol da velocidade e da imagem. Até mesmo o ser humano vem sendo retirado do processo de criação arquitetônico.


BIBLIOGRAFIA

Livro “The state of architecture at the beginning of the 21st century”, capítulo “Detail + Identity”
TSCHUMI Bernardo, Arquitetura e limites I, II e III.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte e crítica da arte. 2ª ed. Lisboa: Estampa, 1995.
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994.
FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Por que é importante uma arquitetura de limites?

De acordo com a definição do dicionário Michelis: “Limite: 4 Marco. 5 Extremo. 7 Alcance máximo ou mais distante de um esforço. Tschumi fala sobre as obras de limite como sendo as de situações extremas, verdadeiros marcos que “[realmente] nos informam sobre o estado da arte, sobre seus parodoxos e contradições”. Esse tipo de arquitetura deixa claro as diferenças, denuncia situações, polemiza. Por isso o autor fala sobre a importância de entender o que as atividades de fronteira escondem e encobrem.
O texto diz que obras de limite constituem casos isolados dentro da produção comercial dominante. Então, em meio a um período de homogeneização cultural, onde tudo segue a lógica do consumo, modelos são ditados como únicos e verdadeiros; o que está fora do padrão é excluído. Como já disse Che Guevara, “A culpa de muito dos nossos intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários.” Grande parte de nossos artistas estão enraizados em torno de modelos; O fora do padrão, o que está no limite, o “revolucionário”, é muitas vezes ignorado, pois pode revelar, expressar e informar situações que não são de interesse dos dominantes, que podem abalar suas comodidades e suas tradicionalidades. Esse é o tipo de atitude, como dito no texto, “reducionista”, que nega e exclui possibilidades.
Segundo Tschumi a arquitetura é uma atividade humana, altamente complexa. Então, para ela, ou para a vida, não existem equações exatas. O mundo contemporâneo é dinâmico, frágil e mutável, não existem modelos, leis ou instruções.
Uma arquitetura de limites é importante por suas singularidades, por seus significados, por representar conceito ou formalmente uma realidade à partir de outro foco que não seja o dominante em uma determinada época ou lugar; Por mostrar possibilidades, abrir espaço para o debate e construir críticas sobre as condições existentes.

DETAIL AND IDENTITY

DETALHE E IDENTIDADE
ANA CAROLINA DIÓRIO, MAÍRA RAMIREZ E ANA MARIA MARTINS.


INTRODUÇÃO
O capítulo “Detail and Identity”, do Livro “The state of architecture in the beginning of 21st century”, discute a temática à partir de exemplos e visões de diferentes setores como: política, sociedade, design, arquitetura e produção. Por se tratar de um texto contemporâneo, os autores analisam várias questões, inclusive a produção do modernismo, com um distanciamento histórico que lhes permite apontar algumas de suas falhas e levantar questões sobre as posições atuais.
O presente trabalho vai apresentar os diferentes posicionamentos defendidos pelos autores nos textos, refletindo sobre eles e ao mesmo tempo tentando conectá-los interna e externamente com outros exemplos, possibilitando uma reflexão sobre práticas arquitetônicas atuais e anteriores.


“DETAIL AND IDENTITY”
O capítulo é formado por sete textos de teóricos contemporâneos, introduzidos por uma breve explanação acerca dos conceitos de detalhe e identidade. A obra apresenta e discute o tema a partir de diferentes áreas e visões: política, sociedade, design, arquitetura e produção. Neste momento introdutório são levantados tópicos como a importância do detalhe para a criação da identidade da obra e do próprio arquiteto. Além disso, o detalhe é tratado como um excesso, algo que vai além da função e forma, garantindo à obra significados mais amplos. Desta forma, a utilização do detalhe reflete a preocupação com a criação ou manutenção de uma identidade.
O primeiro texto, Evidence of Identity, de Laurie Hawkinson, apresenta a semântica dos termos em análise. Nele as definições de detalhe e identidade são trabalhadas e comparadas segundo sua interdependência. Segundo a autora, detalhe é aquilo que se distingue do geral, destacando-se como característica e particularidade. Sua ligação com a identidade se dá exatamente neste momento, onde é o detalhe que confere identidade ao objeto.
Tendo identidade como algo particular que determina um objeto ou grupo de objetos, pode-se perceber uma dialética pertinente ao tema que, por um lado é aquilo que distingue e torna único e por outro é capaz de integrar e fazer pertencer a um grupo. Assim, a relação estabelecida por detalhe e identidade se da pelo ato de montar e desmontar simultaneamente, é a relação entre o fragmento e a totalidade da construção.
O segundo momento discute a questão do trabalho/produção em escalas menores e sobre o prazer dessa possibilidade de trabalho mais íntima, gerando objetos “entre a utilidade e a beleza”. Desta forma, o trabalhador se reconhece no objeto, gerando uma relação de prazer e realização durante a produção, além da identificação mútua entre homem o objeto.
Como uma crítica à produção em massa e padronizada, o autor propõe e apresenta exemplos de trabalhos próprios produzidos “em resposta ao corpo humano”, à um corpo específico não ao corpo padrão do homem-modelo.
Já o texto “Market Identity: Desappeared by Detail”, de Michael Bell trata do questionamento sobre a real efetividade da produção arquitetônica nas mudanças políticas e sociais. A crítica à produção moderna apresentada neste está totalmente atrelada à relação falha estabelecida entre a grande carga teórica apresentada pelos modernistas e a pequena efetividade construtiva durante as tentativas de aplicação dos conceitos propostos. Atrelada à crítica exposta pelo texto anterior, Michael aponta de forma negativa questões como a produção em massa e sua valorização que ganhou força após a Revolução Industrial.
No decorrer do texto o autor estabelece relações entre a existência de uma sociedade de consumo, com base na exploração e na mais valia e os valores de mercado. Desta forma é levantada uma questão dialética entre a realidade social, a produção do espaço e as leis do mercado. É impossível saber se o valor se justifica pela forma de ocupação e esta configura o espaço; se é este valor econômico que determina as demais características ou, ainda, se é a sociedade que determina a ocupação do espaço ou vice versa.
No âmbito arquitetônico questiona-se como e se é possível compensar as distâncias sociais, financeiras, físicas e educacionais em prol da criação de uma identidade capaz de aproximar ao invés de segregar.
O quarto texto apresentado no capítulo, denominado “The Style of Architecture”, de Andrew Benjamin levanta questões ligadas à classificação da produção em estilos, indagando acerca da real existência destes estilos e da forma como as obras se inserem neles. A discussão é iniciada através da citação de Heinrich Hubsch, quando este aponta a seguinte dúvida: “Em qual estilo deve-se construir?”. A partir de indagações entre produções anteriores e a desenvolvida no Modernismo, o autor chega à conclusão de que o estilo só existe a partir do momento que surgem outros modelos seguindo novos princípios. Desta forma, percebe-se que a existência e a afirmação de um estilo parte da negação de outro. Assim, pode-se concluir a impossibilidade de definir um estilo, principalmente quando se pensa nessa interdependência, mesmo que seja formada pela negação.
O debate é deslocado ao apontar duas questões a serem priorizadas. Primeiramente é abordada a interlocução do estilo com a identidade nacional. Este ponto pode ser analisado a partir da existência de correntes artísticas e arquitetônicas similares em todo o mundo, mas que apresentam individualidades que revelam as peculiaridades e os sentimentos nacionalistas de cada lugar. Entretanto, tal relação não é a resposta para toda discussão sobre estilo. Seguindo esta discussão, o autor aborda a existência do Estilo Internacional e seu reconhecimento como sinônimo do Moderno. Ao contrário do anterior, este aponta uma unificação na produção arquitetônica mundial, que cria modelos únicos de produção sem se ponderar as peculiaridades de cada região.
A questão da importância do detalhe como “agente transformador” e criador de identidade é retomado criativamente no quinto texto, “How architecture stopped being the 97-pound weakling and became cool”, através do design. O autor, Svlvia Lavin, coloca a possibilidade de valorização, em diversos sentidos, de coisas e pessoas, à partir do desenvolvimento de uma identidade própria, diferenciada e individual através do design.
É interessante estabelecer elos entre os textos que não foram organizados aleatoriamente. O detalhe é justamente o “criador” da identidade e o responsável pela inserção ou exclusão da obra em determinado grupo ou estilo, questão criticada no texto anterior. Portanto, o detalhe é o responsável pela existência ou negação do estilo.
Partindo do princípio das técnicas de representação e dos processos construtivos, os últimos textos discutem modos de produção e criam uma tríade discursiva entre tecnologia, design e sistemas integrados. Chegando à questão da arquitetura de detalhes, o mesmo coloca esta como a larga produção do relacionamento entre design e indústria.

EXEMPLOS:
1- Movimento “Arts and Crafts”
Com o advento da Revolução Industrial a conformação política econômica e social das cidades se modificou muito. Além disso, as artes sofreram uma drástica mudança de valor. O que outrora era produzido manualmente por meio do artesanato passou a ser fabricado em série, em uma velocidade muito maior. Entretanto, a produção perdeu em termos de espiritualidade, não havia mais a presença da energia humana; A produção é impessoal e sem vida; Resumindo: é sem identidade. A meta da produção industrial seria de retirar todo o processo de execução das mãos do trabalhador e entregá-lo para as máquinas, eliminando de vez o “erro” humano. O espírito progressista e liberal do começo do século XIX é sucedido por gostos materialistas. O progresso deixa de se vincular aos direitos e às liberdades do homem. O que se vê é uma desumanização progressiva e a perda sistemática da qualidade funcional e de uso, principalmente em se tratando de produtos de uso cotidiano. Devido a todos estes fatores a produção artística cai muito de qualidade, o que provoca o surgimento de alguns críticos que buscam reerguer sua qualidade.
Das críticas sociais e morais ao industrialismo nasceram as propostas do design como agente de transformação, como uma medida reformista que daria a possibilidade de valorização dos objetos à partir do desenvolvimento de uma identidade própria, diferenciada e individual. É quando começa o Movimento Arts and Crafts, que surge na Inglaterra em 1830.
A análise, a partir de pensamentos do filósofo John Ruskin, do problema da relação entre a arte e a indústria, e o questionamento do sistema industrial como um todo, foram muito válidos para o processo de reforma. Seus ensinamentos foram tomados como base por William Morris (1834 - 1896). Morris era um intelectual rico que deixou a arquitetura por perceber que esta ciência em seu tempo não se fazia da ligação entre homens e construções, a real efetividade da produção arquitetônica já estava sendo colocada em xeque. Morris defende e começa a divulgar, em meados do séc. XIX, a importância da concepção artística do objeto design de forma inédita, valorizando e preservando os “modos” de produção e conhecimento artesanais, a serem retomados na confecção de objetos de uso cotidiano.
Reunindo teóricos e artistas, o movimento buscou revalorizar o trabalho manual e recuperar a dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente para uso cotidiano, promovendo a integração entre projeto e execução; a relação mais igualitária entre os trabalhadores envolvidos na produção e ainda, padrões elevados de criação, qualidade e acabamento; Ou seja, trabalhar os detalhes, desenvolvendo e criando uma identidade.
A Red House, criada por Morris e que tem como arquiteto Philip Webb teve em seu conceito todas as idéias do movimento das Arts and Crafts. Foi o próprio Morris quem desenhou e ornamentou a casa por meio de elementos simples, criteriosa escolha de materiais. Esta parte é toda feita artesanalmente.
O objetivo de Morris na construção desta residência era mostrar como era possível criar elementos uteis sem utilização da máquina. A casa era formada por elementos simples, diferentes dos costumeiros na época, mas muito funcionais. Era clara a crítica à indústria, ao capitalismo e à produção em série.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/The_Red_House%2C_Bexleyheath.JPG
A casa vermelha (Red House) em Bexleyheath, Kent
2- Estilo Internacional

O nome Estilo Internacional, citado no texto “Style of Architecture” referencia à produção arquitetônica funcionalista praticada durante a primeira metade do século XX em todo o mundo.
Esta intitulação é comumente utilizada para designar toda a produção do Movimento Moderno, pautada por formas visuais simples, concretas e racionais. Entretanto esta produção se torna internacional a partir do momento em que estas formas se tornam padronizadas para toda a produção arquitetônica mundial, criando padrões e módulos a serem seguindo.
Como justificativa para esta colocação pode ser citada a raiz do movimento nos ideais de Le Corbusier, criador do modulor, homem modelos cujas medidas serviam de base para qualquer produção em qualquer lugar. Entretanto, estas medidas se baseavam na média alemã de pessoas do sexo masculino, ou seja, jamais poderiam ser aplicadas em uma produção voltada a utilização de uma mulher brasileira, por exemplo .

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Modulor, Le Corbusier

É importante ressaltar que, a princípio, os modernistas negavam a idéia de estilo, buscando romper com o historicismo e criar uma arquitetura flexível, distante das limitações provocadas pelas determinações estilísticas. Os padrões criados funcionavam como diretrizes que traduziam as teorias e os ideais pensados. Entretanto, a formação de um estilo e, pior, do Estilo Internacional foi inevitável. O que outrora traduzia ideais, se transformou em regra a ser reproduzida mundialmente.
Esta transformação e padronização se caracterizaram, principalmente pela desvalorização das peculiaridades de cada região e principalmente, pelo desrespeito ao sentimento de nação. Segundo Andrew Benjamin, apesar de todas críticas pós modernas e contemporâneas, a arquitetura ainda não conseguiu se desvencilhar do Estilo Internacional e retornar a produção para suas raízes nacionais.

CONCLUSÃO

Os detalhes são fundamentais para a formação da identidade de obra e do próprio arquiteto. Estabelecem com esta a relação entre fragmento e todo. Por outro lado a identidade é responsável por distinguir diferentes e agrupar iguais, sendo ela, então, a determinadora para a criação dos estilos arquitetônicos de cada período ou região, se é que pode-se acreditar na existência real destes estilos que se diferenciavam nas criações nacionais e que são interdependentes em características e nas mútuas negações e afirmações.
O fato é que, mesmo que eles não existam, há na produção arquitetônica uma ligação muito forte aos módulos e padrões a ela indicados. Este fato explica, por exemplo, a não ruptura, em pleno século XXI, com uma produção típica do início do século anterior. Este padrão só pode ser rompido por meio de uma produção arquitetônica de limites, ou seja, que se permita ir ao extremo para romper.
As determinações políticas, econômicas e sociais sofridas pela produção arquitetônica, também são elementos fundamentais para uma criação rígida, manipulada e manipuladora. É impossível, entretanto estabelecer até que ponto a arquitetura é interferida por este tipo de relações e até que ponto ela é capaz de interferir na realidade. Sua real efetividade, por meio da concretização de ideais, em ramos como política e sociedade ainda é muito questionada, principalmente após os adventos do Modernismo.
É fato, entretanto, que a percepção dos “detalhes” arquitetônicos de uma cidade é fundamental para a imagem que será construída sobre ela. Entretanto, da mesma forma que os “óculos em um homem magro” apontam sua transformação em um homem “cool”, mas não são a garantia dela, os detalhes e design de uma cidade trabalham com a imagem, provocando uma possível modificação da forma como ela é vista, o que não implica necessariamente na real solução dos problemas que estes detalhes escondem.
O grande problema é que a lógica da produção arquitetônica atual parte do mesmo princípio da produção industrial, atrelada ao consumo e à massificação, onde os objetos são todos iguais, a mão de obra é explorada e o tempo ganha mais valor do que a qualidade. Desta forma, questões mais profundas, como a realidade social, idéias políticos ou até mesmo a forma de utilização dos espaços criados são deixadas de lado em prol da velocidade e da imagem. Até mesmo o ser humano vem sendo retirado do processo de criação arquitetônico.


BIBLIOGRAFIA

Livro “The state of architecture at the beginning of the 21st century”, capítulo “Detail + Identity”
TSCHUMI Bernardo, Arquitetura e limites I, II e III.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte e crítica da arte. 2ª ed. Lisboa: Estampa, 1995.
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994.
FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Arquitetura como ferramenta de formação política

O ambiente construído é reflexo direto das relações sociais. Segundo Maricato (2011, p.51), uma sociedade como a nossa, radicalmente desigual e autoritária, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade, consequentemente produz cidades que tenham essas mesmas características. Essa é a realidade brasileira. Como falar em urbanismo quando grande parte de uma população sequer tem acesso a cidade? Como falar em arquitetura quando grande parte de uma população sequer tem acesso a uma moradia?

Ao longo do tempo os arquitetos têm, em vários momentos, falhado em seus papeis sociais e políticos. Sérgio ferro, em entrevista no curta metragem Capacetes Coloridos (2007), faz inúmeras críticas ao fazer arquitetônico, tendo abandonado a profissão quando percebeu que não havia maneiras de atuar sem reproduzir a lógica de exploração do sistema. Na maioria das vezes, arquitetura tem se resumido somente a formas, que se fecham cada vez mais para a rua e para a cidade. Segundo Kapp, Baltazar dos Santos e Velloso (2006), esses espaços fechados, que criam mundos privados como promessa de felicidade, também privam as pessoas da vida pública.

Segundo Freitas (p.1),a filósofa política alemã Hanna Arendt acredita que a política só é possível no espaço público, “onde a pluralidade de sujeitos pode se revelar em atos e palavras ao se reunir em torno dos ‘assuntos comuns’ que constituem o campo privilegiado do exercício da cidadania”. Seguindo este pensando, estando o convívio social cada vez mais extinto consequentemente logo a política também o estará. Uma vez assim, como as atuais condições de desigualdade serão superadas? Como já disse Maricato (2011, p. 75), “a exclusão é um todo” – econômica, cultural, educacional, social jurídica ambiental, e não pode ser combatida de forma fragmentada. A população deve se organizar e ser ativa na luta por uma transformação, incorporando, debatendo e lutando por suas causas. De acordo com Romano e Antunes (2002), as pessoas que se encontram fora do processo de tomada de decisões devem ser nele introduzidos; Empoderamento, um termo que aqui se encaixa muito bem, é fundamental.

Os que lutam devem ainda, ser muito fortes, uma vez que quando se organizam e gritam por seus direitos, por causas justas, são, na maioria das vezes, totalmente criminalizados. Exemplo disso, a ocupação, no início do mês de Novembro, de vários edifícios no Centro e na Zona Leste de São Paulo. O direito a moradia é a bandeira levantada por diversos movimentos sociais populares (Frente de Luta por Moradia, União dos Movimentos de Moradia, Movimento de Moradia no Centro) segundo os quais as ações do poder público tem beneficiado mais as empreiteiras do que as famílias de baixa renda. Seria muito bom se esses imóveis vazios, bem localizados, pudessem ser reformados e ocupados, mas o poder público prefere reservar para essa parcela da população terrenos localizados nas periferias, afastadas de onde trabalham, afastados da cidade legal, quase sem infraestrutura alguma. E isso tem acontecido há tempos, onde estavam os arquitetos e urbanistas enquanto essa bolha, prestes a explodir, estava só aumentando? Acredito que muitos encontravam-se sentados em seus escritórios, com o ar condicionado ligado.

No curta metragem “Capacetes Coloridos” é apresentado uma interessante forma de produzir o espaço para a população de baixa renda: o mutirão. Através da cooperação, os futuros habitantes da área formam um mutirão, uma frente de trabalho, uma contraposição ao que as empreiteiras fazem. O exemplo apresentado, de um grupo de pessoas em São Paulo que tiveram de deixar o local onde viviam e organizaram-se em mutirão para início de uma obra em um novo terreno, em 2003, é um belo exemplo de uma arquitetura como formação política. A participação das pessoas na obra e também fora dela, em atividades que o movimento promove, soma pontos que serão válidos no momento de escolha dos apartamentos finalizados. Quem participa e trabalha mais, tem direito de escolher sua casa (a sua,de acordo com suas necessidades, não um projeto modelo imposto para um estereótipo de família brasileira). Considerando a idéia de Maricato (2011, p.76) de que a intervenção em meio físico, com obras de engenharia, arquitetura ou paisagismo, não é suficiente para a inclusão social, o processo anteriormente citado envolveu a população desde o começo, fez com que ela se identificasse com o local e mais importante, tomasse consciência da situação e de seus direitos. Transcrevendo a fala de uma mulher que participou do mutirão e hoje vive em um apartamento de sua escolha:

“você entra e vê que não é só isso, você encontra um monte de pessoas que tem um monte de outros problemas, e aí você fala: poxa, se a gente conseguiu se organizar pra ter uma moradia, a gente também pode se organizar pra ter escola, pra ter transporte, pra ter um monte de outras coisas... é o emprego, é a educação, é tudo. Você sabe que você agora é forte. E a política, eu acho que tudo envolve a política”. Capacetes Coloridos (2007)

Essa tomada de consciência por parte deste grupo foi essencial.O espaço do mutirão construiu além de prédios, o espírito crítico e político das pessoas, fazendo-as acreditar em um futuro melhor, menos desigual. A sociedade organizada pode sim conquistar o que é seu de direito! Brasileiros e Brasileiras, uni-vos! porque a luta pela cidade, pela moradia e pela arquitetura, é também uma luta política.

Último apelo: - Arquitetos caretas de todo o mundo, sem mágoas, estamos ai!


REFERÊNCIAS

KAPP, Silke; BALTAZAR DOS SANTOS, Ana Paula; VELLOSO, Rita de Cássia Lucena. Morar de Outras Maneiras: Pontos de Partida para uma Investigação da Produção Habitacional. Topos Revista de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 4, p. 34-42, 2006.

MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. 4. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

FREITAS, Bruno Peres. Política e Espaço Público: um diálogo inicial com Hannah Arend. Puc-Rio.

ROMANO, Jorge O. ANTUNES, Marta. Empoderamento e direitos no combate à pobreza. Rio de Janeiro : ActionAid Brasil, 2002.

Capacetes Coloridos. direção, roteiro, produção e fotografia: paula constante. duração aproximada 38 minutos. colorido. ntsc. 2007.

Movimentos de luta por moradia articulam ocupações simultâneas. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9574. Acesso: novembro de 2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

árvores, só.

A terra, uma semente, uma árvore. Árvores são tão vivas e tão simples; Tão bonitas e fáceis de desenhar, não são? Fazem sombra, dão flores e frutos, assobiam com o vento... Cores, cheiros, sons, sabores... Que lindo, que delícia. Quanta perfeição!

Toda essa reflexão fez-me lembrar de uma canção, um poema sobre árvores que o Arnaldo Antunes escreveu e musicou. Sempre que ouço essa música sinto que toda a perfeição que citei anteriormente é simples e completa.

As árvores - ARNALDO ANTUNES

As árvores são fáceis de achar
Ficam plantadas no chão
Mamam do sol pelas folhas
E pela terra
Também bebem água
Cantam no vento
E recebem a chuva de galhos abertos
Há as que dão frutas
E as que dão frutos
As de copa larga
E as que habitam esquilos
As que chovem depois da chuva
As cabeludas, as mais jovens mudas
As árvores ficam paradas
Uma a uma enfileiradas
Na alameda
Crescem pra cima como as pessoas
Mas nunca se deitam
O céu aceitam
Crescem como as pessoas
Mas não são soltas nos passos
São maiores, mas
Ocupam menos espaço
Árvore da vida
Árvore querida
Perdão pelo coração
Que eu desenhei em você
Com o nome do meu amor.

Após assistir um vídeo do projeto Arbores Laetae do Diller Scofidio & Renfro studio para a Liverpool Biennial (http://www.youtube.com/watch?v=gQwu1DSGNPM&feature=share), fiz questão de abraçar várias árvores que encontrava pelo caminho, plantadas no chão, paradas. Também, fiz questão de ler, ouvir e tocar esse poema/música várias vezes, grifando algumas partes.

Arbores Laetae, joyful trees, dancing trees…Por que não se contentar só com árvores?

Algumas criações de Deus são tão completas e perfeitas que os homens não deveriam nem tentar interferir.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ordinário café

Manhã fria e silenciosa, de céu gris. Um homem caminha pela cidade vazia, acompanhado pelas melodias compostas pelo vento. Subitamente encontra-se sentado, confortavelmente, em um daqueles cafés alternativos espalhados pelos boulevards de Paris, espaço propício para encontrar pessoas, filosofar, compartilhar idéias, divagações e reflexões.

O frio cruel determinou sua natural busca por abrigo, assim como o foi desde as origens; Em contraponto, a frieza, também cruel, do homem contemporâneo, determinou sua preferência pela mesa mais afastada e isolada do recinto. Solitário, desfruta sua bela xícara de café quente, forte e sem açúcar; À parte a solidão, sente a cada gole vivacidade e prazer.

Naquela manhã, não utilizou a moeda que sobrava nos bolsos para comprar o jornal tampouco teve o prazer de receber um Bonjour, monsieur! do senhorzinho que trabalha há anos na banca de jornais. Acomodado, tira seu noticiário digital dos bolsos, onde novidades chegam a todo instante via internet. Sobre a solidão, se confortava com a idéia de estar conectado a rede mundial afinal, tendo 680 amigos registrados em seu perfil algum deles havia de estar disponível naquela manhã para o petit déjeuner. Não encontrando companhia online que lhe apetecesse, colocou os fones de ouvido. Uma canção de Iggy Pop lembra-o de um trecho do filme “Coffee and Cigarette” (2003), que diz: “Cigarettes and coffee, man, that's a combination”. Para confortar-se, “acende” seu cigarro eletrônico companheiro, que felizmente está com a bateria 100% depois de ligado no carregador USB por toda a madrugada.

Termina seu café contente e satisfeito. Deixa o local como se por ali nunca tivesse passado.

Mais um reles mortal.


domingo, 12 de dezembro de 2010

EDIFÍCIO VILA




Projeto desenvolvido no Estúdio "Arquitetura em Contexto" orientado pelo Professor Marcos Vinícius Guimarães.